Foi mais uma daquelas noites em que havia anjos na enfermaria a fazer horas para levar um de nós.
Foi mais uma daquelas noites em que havia anjos na enfermaria a fazer horas para levar um de nós.
Sou jornalista do Rádio Clube, e escrevo para lhe contar o que se está
a passar comigo.
Apesar de não ser actualmente associado do SJ, penso que é meu dever
dar-lhe conhecimento desta situação que considero de rara gravidade, e
um mau prenúncio para o futuro.
Em Dezembro de 2008 foi-me diagnosticado um cancro no recto. E logo se
me colocaram no meu horizonte tratamentos de quimioterapia e
radioterapia, antecipando uma operação para remover o tumor. Essa
operação aconteceu a 27 de Abril de 2009.
No espaço de tempo entre o dia do diagnóstico e a operação nunca
faltei ao trabalho, excepto nos dias de tratamento de quimioterapia
via intravenosa. Antes pelo contrário, motivado pelos colegas do
programa Janela Aberta (no ar todas as tardes), passei a assinar umas
crónicas diárias – as Crónicas da Sala de Espera – onde contava o meu
dia-a-dia como jornalista, e como doente de cancro, nos hospitais onde
fazia os meus tratamentos.
Fiz também alguns directos da sala de tratamentos de Quimioterapia,
usando o braço que tinha livre para falar ao telefone.
Quando na Gala do Rádio Clube, realizada em meados deste ano, no
Auditório da Aula Magna da Universidade de Lisboa, fui aplaudido de pé
pelos dois mil ouvinte dos Rádio Clube, durante vários minutos, senti
que todo o meu esforço, pois disso de tratou, estava a valer a pena.
Estava a chegar às pessoas.
Enquanto isso não parei de receber e mails de ouvintes, ora a
agradecer por haver uma voz no Rádio Clube, alguém que estava a passar
pelo mesmo e a sentir o mesmo que eles, ora a incentivar-me a
continuar.
Depois da minha operação fiz mais alguns directos, deitado na cama do
hospital. E no dia em que tive alta, aceitei mais um convite do
programa Janela Aberta, e entrei em directo no Rádio Clube, tendo
passado pelo estúdio antes até de ir para casa, após dois meses e meio de
internamento.
Veio o Verão, vieram as férias, e a nova administração afasta o
director, Luís Osório, de quem fui colaborador
directo, desde o arranque do projecto.
Em Agosto escrevi ao novo director, queria voltar, e continuar a dar o
meu melhor pelo Rádio Clube.
A resposta que recebo é esta:
“Olá, Pedro.
Obrigado pelo abraço. Quanto ao resto, a Saúde vem primeiro. Não te
preocupes com trabalho agora. Recupera no tempo que for preciso.
Depois falamos com calma dessas ideias e desse teu combate titânico
mas também admirável com a doença.
És um exemplo inspirador para quem já passou ou venha a passar pelo
mesmo que tu. Acho mesmo.
Coragem, rapaz!
Outro abraço.
Vítor”
Há dias fui convocado pela actual administração. Logo percebi que ia
ser informado de que integrava uma (anunciada) lista de colaboradores
da MCR, alvo de despedimento colectivo, tendo já sido notificado por
escrito.
Do novo director, não recebi qualquer palavra prévia, ou mesmo
posterior à reunião que tive com a Administração do RCP, na pessoa de
João Vigário.